Clipclap

Aguarde ...

Portal Estadão

Publicado em 08/08/2025 - 09:32 / Clipado em 08/08/2025 - 09:32

Reduzir desigualdades regionais é prioridade no combate ao câncer no Brasil


Políticas públicas, tecnologia e integração da rede podem tornar os cuidados oncológicos mais equitativos


Por Estadão Blue Studio
 

Estratégias para reduzir as desigualdades regionais e ampliar o acesso a exames e tratamentos para melhorar a jornada do paciente com câncer no Brasil foram debatidas no painel “Câncer no Brasil: desigualdades regionais e soluções para um acesso equitativo” durante o evento Retratos do Câncer. Para Maria del Pilar Estevez Diz, diretora do corpo clínico e coordenadora da Oncologia Clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), o diagnóstico precoce continua sendo um importante desafio, mas também um dos pontos com maior potencial de mudança.

A especialista ressaltou que alguns protocolos estaduais já começaram a priorizar casos considerados suspeitos, acelerando a realização de exames. “Estamos avançando na definição de critérios de alta suspeição e no uso de protocolos integrados para tornar a jornada mais ágil”, afirmou.

Ainda de acordo com Maria Del Pilar, a educação em saúde e a capacitação de agentes da atenção básica também são pontos fundamentais. “Quando a população reconhece sinais de alerta e os profissionais da ponta sabem como agir, conseguimos encurtar prazos”, destacou.

Redes mais conectadas

Ampliar a distribuição de centros especializados em todo o País também é fundamental. Marlene Oliveira, fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, lembrou: “O Brasil tem 5.570 municípios, mas apenas 351 unidades habilitadas para alta complexidade, quase metade concentrada no Sul e Sudeste”. Reconhecer essa realidade é o primeiro passo. “Temos um país continental, mas também condições de mudar esse cenário com gestão, integração e políticas que fortaleçam a jornada do paciente”, afirmou.

O painel também destacou o papel da tecnologia na redução dessas desigualdades. Ferramentas como telemedicina e inteligência artificial possibilitam segunda opinião a distância, leitura remota de exames e gestão mais eficiente das filas, otimizando recursos e ampliando a cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS).

Direito adquirido

Para Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia, a equidade no tratamento passa pela padronização de protocolos. Ela lembrou que já existem listas de terapias sugeridas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), órgão responsável por avaliar e recomendar a incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde no sistema público. “O desafio é fazer essas recomendações chegarem a todos, com transparência e planejamento”, afirmou.

A legislação brasileira já prevê prazos para diagnóstico (30 dias) e início do tratamento (60 dias). Embora a implementação ainda seja desigual, Laura Testa, chefe do Grupo de Oncologia Mamária do Icesp, considera as normas um avanço. “São instrumentos que orientam gestores e empoderam pacientes. Precisamos seguir avançando para garantir que esses direitos sejam cumpridos.”

A Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer representa outro avanço estrutural. “Ela organiza diretrizes e consolida compromisso com cuidado integral”, avaliou Laura.

Avanço e esperança

As participantes do painel concordaram que reduzir desigualdades exige gestão eficiente, financiamento adequado e participação da sociedade. Para Maria del Pilar, o avanço já começou: “Estamos discutindo integração entre níveis de atenção, uso racional de tecnologias e fortalecimento da atenção primária. Isso já indica uma mudança importante”.

Laura fez questão de encerrar o debate com uma mensagem de esperança: “Ser otimista dá trabalho, mas é isso que move a transformação. Temos um ponto de partida sólido e precisamos construir juntos”.

‘Meu propósito é ajudar outras pessoas com a minha história’

Fabiana justus

Na tarde em que subiu ao palco do evento Retratos do Câncer, Fabiana Justus compartilhou um dos momentos mais difíceis de sua vida. Em janeiro de 2024, pouco após dar à luz seu terceiro filho, foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda. “Meu chão caiu. Eu só pensava nos meus filhos”, contou. Internada no mesmo dia, iniciou uma rotina intensa de tratamento e isolamento.

Nas redes sociais, decidiu mostrar a realidade da doença, os dias difíceis, a queda de cabelo, a dor e a esperança. “Quis mostrar sem romantizar. Contar minha história me fortaleceu.”

O tratamento incluiu transplante de medula, com doador dos Estados Unidos, e foi bem-sucedido. Em remissão, Fabiana hoje reforça a importância da doação de sangue e de medula. Ao encerrar sua fala, resumiu: “Se minha história tocar uma pessoa, já valeu. A vida é agora, então viva”.

 

https://www.estadao.com.br/saude/reduzir-desigualdades-regionais-e-prioridade-no-combate-ao-cancer-no-brasil/

Veículo: Online -> Portal -> Portal Estadão