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Portal Estadão

Publicado em 08/08/2025 - 09:27 / Clipado em 08/08/2025 - 09:27

Casos de câncer entre jovens crescem no Brasil e no mundo


Estudos apontam aumento da doença antes dos 50 anos; especialistas defendem atenção aos sinais, prevenção e estilo de vida saudável

 

Por Estadão Blue Studio

 

O câncer, historicamente associado ao envelhecimento, tem se tornado mais comum entre adultos com menos de 50 anos. Um estudo da BMJ Oncology revela que nas últimas três décadas os casos nesse grupo aumentaram 79% no mundo. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram alta principalmente em tumores de mama, intestino, tireoide, pele e órgãos reprodutivos.

“Embora ainda sejam minoria, o crescimento proporcional entre os jovens é preocupante”, afirma Heloisa Veasey Rodrigues, oncologista do Einstein Hospital Israelita. “Como não pertencem ao grupo de risco tradicional, muitos recebem o diagnóstico tardiamente, o que dificulta o tratamento.”

 

Diagnóstico mais difícil

 

Aos 23 anos, Evelin Scarelli cursava a faculdade quando notou um caroço no seio. “Era tão jovem que minha ginecologista nem examinava minha mama. Jamais imaginei que poderia ter câncer”, conta. Ainda assim, ela insistiu nos exames e recebeu o diagnóstico: câncer de mama. Descobriu também uma mutação no gene BRCA2, que eleva o risco da doença. Passou por mastectomia, quimioterapia e radioterapia.

Como o tumor que enfrenta não tem cura, faz um acompanhamento rigoroso, mas segue em frente. Realizou o sonho de ser mãe e hoje compartilha sua experiência para alertar outras pessoas sobre a importância de investigar qualquer sinal suspeito, mesmo na juventude. “Quando a gente é jovem, não pensa em câncer. Mas é preciso ouvir o corpo. Se algo não parece certo, vá atrás.”

Prevenção começa cedo

 

Mesmo com fatores genéticos, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que cerca de 40% dos casos de câncer podem ser evitados com mudanças no estilo de vida — como alimentação equilibrada, prática de exercícios, controle do peso e abandono do cigarro.

Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), reforça também a importância da vacinação. “A vacina contra HPV protege não só contra o câncer do colo do útero, mas também da vulva, vagina, pênis, canal anal e garganta.”

Ela destaca ainda que sinais como sangramentos anormais, dores persistentes, nódulos, emagrecimento repentino e alterações intestinais devem ser investigados, mesmo em pessoas jovens.

Estilo influencia riscos

Embora o câncer tenha múltiplas causas, especialistas apontam o impacto de hábitos modernos. Dieta pobre em fibras e rica em açúcares e conservantes, excesso de ultraprocessados, sedentarismo, obesidade e início precoce do consumo de álcool e cigarro são fatores de risco.

No caso do câncer de mama, mudanças hormonais e reprodutivas também influenciam. “Hoje, muitas mulheres têm filhos mais tarde, em menor número, e amamentam por períodos mais curtos. Isso aumenta o tempo de exposição hormonal, um fator ligado ao desenvolvimento da doença”, explica Angélica.

Informação salva vidas

O avanço dos casos entre jovens rompe paradigmas e reforça a importância de ampliar o acesso à informação e ao rastreamento precoce. A mensagem dos especialistas é clara: quanto antes começarmos a cuidar da saúde, maiores são as chances de prevenir e tratar a doença. Estar atento aos sinais pode fazer toda a diferença.

Câncer antes dos 50 anos

Doença rompe padrão histórico ligado ao envelhecimento e desafia estratégias de diagnóstico e prevenção

  •     79% foi o aumento global nos casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos entre 1990 e 2019 [BMJ Oncology]
  •     45 mil é a estimativa anual de novos casos de câncer colorretal no Brasil até 2025  [Inca]
  •     4 vezes é quanto aumentao risco de câncer retal em pessoas nascidas após 1990, em comparaçãoàs nascidas nosanos 1950 [American Cancer Society]
  •     40% dos casos de câncer podem ser evitados com mudanças no estilo de vida, segundo a ONU [Organização das Nações Unidas]

 

Um alerta sobre o câncer colorretal

A cantora Preta Gil, que faleceu dia 20 de julho, aos 50 anos, foi uma das vozes mais importantes na conscientização sobre o câncer colorretal. Diagnosticada em 2023, lutou por dois anos contra a doença, período no qual compartilhou sua jornada com franqueza e ajudou a ampliar o debate sobre prevenção.

O câncer colorretal — que afeta o intestino grosso e o reto — é um dos que mais crescem entre jovens adultos. Antes associado ao envelhecimento, é cada vez mais comum entre os 30 e 45 anos.

O Inca estima mais de 45 mil novos casos por ano no País até 2025. Já a American Cancer Society aponta que pessoas nascidas após 1990 têm até quatro vezes mais risco de desenvolver câncer retal do que aquelas nascidas nos anos 1950.

“Sintomas como alterações no hábito intestinal não devem ser ignorados. Ainda há resistência em associar esses sinais ao câncer em jovens, o que atrasa o diagnóstico”, diz Heloisa Veasey Rodrigues, oncologista do Einstein Hospital Israelita, acrescentando que a recomendação atual é realizar colonoscopia a partir dos 45 anos — antes disso, se houver histórico familiar.

 

https://www.estadao.com.br/saude/casos-de-cancer-entre-jovens-crescem-no-brasil-e-no-mundo/

 

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