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Portal Folha de S. Paulo

Publicado em 07/07/2025 - 09:35 / Clipado em 08/07/2025 - 09:35

Para onde apontam as placas da saúde suplementar?


 Gastamos em prevenção menos de 0,5% dos R$ 320 bilhões de despesas assistenciais


Antônio Britto

Diretor-executivo da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados)

Imagine uma estrada onde, estranhamente, os sinais estão todos invertidos. Para quem precisa seguir na direção norte, as placas indicam o sul. Onde se deve reduzir a marcha, aponta-se para acelerar. E, assim por diante, uma absoluta falta de alinhamento entre estímulos e objetivos.

Essa estrada existe: é o sistema de saúde suplementar.

Vítima do excesso de judicialização, ele de muitas formas a promove pela falta de clareza de normas e ineficiência de instancias de mediação.

Deveria ser um sistema organizado com utilização cuidadosa e eficiente dos recursos que faltam a todos. Por exemplo: estimular o beneficiário a passar por um clínico geral antes de correr ao hospital por qualquer razão. Aqui, o racional não acontece. O paciente, em prejuízo até dele, escolhe como, quando ou onde tratar-se. Ao mesmo tempo, adiam-se diagnósticos e desperdiçam-se exames e terapias.

Precisaríamos fortalecer a prevenção e a promoção da saúde. Seu plano de saúde exige que se façam as vacinas adequadas? Combatemos como país o sedentarismo e a obesidade? Gastamos em prevenção menos de 0,5% dos R$ 320 bilhões em despesas assistenciais.

Nenhuma operadora se vê estimulada a oferecer prevenção diante da ameaça de perder um terço de seus clientes a cada ano. Mas são as mesmas operadoras que mantêm uma relação arcaica com corretores que a cada 12 meses só ganham mais se o cliente trocar de plano. E nós seguimos falando em prevenção e continuidade de cuidado.

A inconsistência chega à forma como financiamos a saúde suplementar. Nos últimos 30 anos, o mercado de trabalho foi marcado pelo aumento da informalidade, pelo empreendedorismo, pela redução do vínculo formal. O que faz a saúde suplementar? Não tem liberdade para lançar planos para os brasileiros sem CLT. Nem para empresas em dificuldade para pagar a conta. Criam-se gambiarras ou jabuticabas como microempresas familiares.

O financiamento do sistema e o número de beneficiários seguem totalmente atrelados ao raro e nunca sustentável crescimento de emprego (formal) e de renda. Na ausência deles, anda-se em círculos. Não deveria ser nosso projeto coletivo debater e estabelecer mais planos para um maior número de brasileiros?

São apenas alguns exemplos da absoluta incoerência das placas de caminhos para a saúde suplementar. Apesar de tudo, em 30 anos, ela foi capaz de atingir 25% dos brasileiros, tornar-se um sonho de todos e importante apoio ao SUS.

Preferimos, porém, seguir na agenda com os olhos fixos no curto prazo. Fazemos de conta que o que nos trouxe até aqui será capaz de garantir um novo ciclo de crescimento sustentável por mais 30 anos. Como isso não acontece, segmentamos nossas demandas como se fosse possível resolver o problema de só um dos elos da cadeia. E, na dúvida, judicializamos tudo.

Não há atalhos fáceis ou rápidos para essa estrada. Está mais do que na hora de rever para onde apontam as placas e colocá-las na direção necessária.

Precisamos de um roteiro racional para os próximos 30 anos.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/07/para-onde-apontam-as-placas-da-saude-suplementar.shtml

 

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