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Portal Estadão

Publicado em 02/07/2025 - 09:29 / Clipado em 04/07/2025 - 09:29

Câncer de cabeça e pescoço: conheça os avanços e desafios no combate aos tumores nessa região


Especialista destaca a importância da prevenção, do tratamento multidisciplinar e do acesso à inovação, além de alertar para os problemas do diagnóstico tardio

 

Por Lucas V. dos Santos
 

O dia 27 de julho marca o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. Curiosamente, foi justamente nessa região do corpo que se identificou o primeiro registro conhecido de câncer em seres humanos: a chamada mandíbula de Kanam, descoberta pelo arqueólogo Louis Leakey, em 1932.

É uma data especial, dedicada à conscientização e prevenção, ao impacto do diagnóstico e ao tratamento precoce do câncer de cabeça e pescoço, além de destacar novas formas de abordagem e incorporação de tecnologia – entre outras informações que permeiam o cuidado oncológico de pacientes e familiares.

Esse tipo de tumor compreende um grupo heterogêneo de neoplasias, que se originam nas porções iniciais do trato digestivo (boca, garganta) e respiratório (cavidade nasal, rinofaringe, laringe, seios da face), bem como nas glândulas salivares.

No mundo todo, são cerca de 900 mil casos novos anualmente, sendo que ocorrem quase meio milhão de óbitos, de acordo com os dados da colaboração GLOBOCAN, da International Agency for Research on Cancer (IARC). Esses números fazem do câncer de cabeça e pescoço o sétimo tipo mais comum globalmente. Ele é bem mais frequente em homens do que em mulheres – e, no sexo masculino, sua incidência no Brasil é comparável à do câncer de pulmão.

Por aqui, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados cerca de 41 mil novos casos por ano. A maioria dos diagnósticos ocorre em estágios avançados.

É importante destacar que a prevenção também pode e deve ser um compromisso individual. A orientação é evitar os principais fatores de risco, como o uso de cigarros e produtos derivados do tabaco, o consumo de álcool, além de minimizar o risco de exposição à infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV). Existem vacinas eficazes disponíveis para os brasileiros (no SUS, especialmente para a faixa etária de 9 a 14 anos, para meninas e meninos), que podem prevenir aqueles casos relacionados ao HPV.

Os problemas do diagnóstico tardio

Isso tem duas implicações muito relevantes: as taxas de sucesso do tratamento são menores em tumores mais avançados, e as sequelas do tratamento empregado tendem a ser maiores.

Como esses tumores acometem a face e o pescoço, as estratégias para tratá-los em fases mais avançadas podem trazer prejuízos na capacidade de alimentação, afetar a voz e até mesmo causar mutilações.


O papel da imunoterapia no tratamento curativo

Mesmo com diversas dificuldades de diagnóstico e tratamento, a comunidade científica pôde apreciar dados de 2025 que parecem melhorar as taxas de sucesso do tratamento. Dois estudos que foram apresentados nos últimos meses sugerem que a incorporação de imunoterapia aumentaria a possibilidade de remissão naqueles pacientes que foram submetidos a tratamentos com intenção curativa, incluindo a cirurgia e a radioterapia.

Aqui, vale uma explicação: na imunoterapia, o medicamento administrado estimula o sistema imunológico do próprio paciente a atacar o tumor. Já na quimioterapia, é a própria droga que vai matar as células cancerígenas. Na radioterapia, por sua vez, essa missão fica com a radiação.

Em um passado não muito distante, a imunoterapia já havia demonstrado bons resultados no cuidado dos pacientes com doença recorrente após um tratamento curativo ou metastático. Em alguns casos, inclusive, esse tipo de tratamento é capaz de induzir respostas completas, ou seja, o desaparecimento de tumores que antes eram incuráveis.

Mas voltemos aos estudos recentes: essas imunoterapias, associadas ao tratamento multimodal com cirurgia e radioterapia (com ou sem quimioterapia), proporcionaram importante redução no risco de recidiva nos primeiros anos de tratamento. O acréscimo de efeitos colaterais também aconteceu, é verdade, porém com pequeno impacto no geral.

A observação dos pacientes nesses estudos ainda continua, e dados futuros nos mostrarão o que acontecerá no longo prazo. Entretanto, é certo afirmar que a imunoterapia já está pronta para ser incorporada nesses cenários, porque já bem conhecemos seu perfil de segurança, e os dados de eficácia são animadores.

Embora ainda não haja aprovação para essa indicação no Brasil (os dados são muito recentes, e ainda não puderam ser apreciados pelas autoridades regulatórias), os medicamentos já se encontram disponíveis aqui no País para outros cenários, o que pode facilitar o acesso dos pacientes a essas tecnologias.

É importante ressaltar que a interpretação dessas novas pesquisas e a sua utilidade para casos individuais deve ser realizada por profissionais especializados e equipes multidisciplinares. Com mais conhecimento, podemos prevenir, enfrentar e vencer essa doença.

 

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