
Publicado em 27/06/2025 - 09:50 / Clipado em 02/07/2025 - 09:50
Câncer: Ministério da Saúde e A.C. Camargo firmam parceria para acelerar diagnóstico no SUS
Super Centro para Diagnóstico do Câncer tem a meta de diminuir de 25 para 5 dias úteis o prazo de laudo na rede pública
Por Leon Ferrari
Mais de 60% dos pacientes com câncer chegam ao Sistema Único de Saúde (SUS) em um estágio avançado da doença, de acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Em oncologia, os especialistas usam o termo “estadiamento” para classificar o avanço do câncer. Segundo o ministro, a maioria dos pacientes já chega no estágio 3 ou 4. “O custo de tratamento é muito maior, a qualidade de vida é pior, o risco de morte é muito maior”, afirmou nesta sexta-feira, 27.
Para Padilha, o principal obstáculo é a dificuldade em obter um diagnóstico precoce. “A pessoa até consegue fazer a biópsia, mas onde ela vive, às vezes, não tem o anatomopatologista que conclui o laudo”, explicou.
Esses médicos são especialistas no diagnóstico de doenças por meio da análise de células, tecidos e órgãos retirados do corpo — que podem ser vivos (biópsias) ou mortos (autópsias). De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil, divulgado neste ano, há cerca de 4,4 mil patologistas no País.
Para enfrentar o desafio, o Ministério da Saúde e o A.C. Camargo Cancer Center anunciaram na tarde desta sexta-feira, 27, uma parceria para acelerar o diagnóstico de câncer de pacientes do SUS. A iniciativa, batizada de “Super Centro para Diagnóstico do Câncer”, ocorre via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) e faz parte do escopo do recém anunciado Agora tem Especialistas.
No Proadi, hospitais de referência trocam a isenção do pagamento de determinados tributos pela realização de projetos em benefício da rede pública. Em nota, o ministério informou que o Agora tem Especialistas vai direcionar cerca de R$ 126 milhões para o Super Centro.
“Todo câncer diagnosticado precocemente tem solução”, afirmou Victor Piana de Andrade, CEO do A.C. Camargo, instituição especializada no atendimento a pacientes oncológicos localizada na capital paulista. O hospital recebeu em maio a certificação de excelência que permite a participação no Proadi.
O Super Centro poderá realizar mais da metade dos exames necessários para o diagnóstico de câncer no Brasil, segundo o ministro. A previsão é que o projeto comece a operar já em julho, com a expectativa de entregar mil laudos por dia. A meta é emitir os resultados em um prazo de 5 dias úteis da chegada de amostras ou imagens, uma redução significativa em relação aos 25 dias úteis atualmente praticados no SUS.
“O Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima 750 mil novos casos por ano de câncer no Brasil. (Com o Super Centro) Estamos oferecendo 400 mil diagnósticos por ano. É uma contribuição muito significativa para que nenhum brasileiro fique sem um diagnóstico no tempo certo”, afirmou Andrade.
Patologia digital
O projeto é o início da chamada “patologia digital” no SUS. No modelo, especialistas de diferentes locais, de forma assíncrona e síncrona, receberão apoio de profissionais do A.C. Camargo na condução do laudo.
De acordo Louise De Brot, diretora de Anatomia Patológica e Genômica do hospital, para isso, o projeto prevê:
- Equipar 100% dos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) com câmeras. Segundo Louise, trata-se de uma câmera específica, acoplada ao microscópio, conectada a um software. Com isso, mesmo em regiões com vazio assistencial, será possível marcar um horário para que o patologista do A.C. Camargo acesse remotamente as imagens ao vivo e analise a lâmina enquanto ela é manipulada no microscópio.
- Instalar oito scanners especiais em laboratórios-chave pelo País. O equipamento permite digitalizar as imagens das lâminas, as pequenas placas de vidro onde são colocados fragmentos de tecido retirados do paciente. “Em vez de olhar essa imagem no microscópio, (o patologista) olha direto em uma tela de computador”, explicou Louise. O arquivo pode ser acessado de qualquer lugar de forma assíncrona.
O Estadão questionou o ministro sobre o tamanho da demanda represada de exames. Ele não apresentou o dado.
Profissionais do hospital explicaram que os primeiros passos do projeto passarão exatamente por mapear os gargalos em cada Estado. Ainda não está definida, por exemplo, a localização desses laboratórios-chave.
O CEO do A.C. Camargo disse que a expectativa é que, dentro de dois meses, o projeto esteja operando na “velocidade máxima”.
Dados
Segundo Louise, a parceria também permitirá melhor trabalhar os dados com um algoritmo criado pelo A.C. Camargo. Hoje, há variação na forma como os patologistas escrevem os laudos. Por exemplo, um pode usar “carcinoma epidermoide” e outro “carcinoma de células escamosas”, nomes diferentes para o mesmo quadro.
Essa padronização vai gerar informações “preciosas”, segundo ela, que ajudam, por exemplo, a calcular a incidência de determinados cânceres — informação relevante para o planejamento e a tomada de decisão em saúde pública.
60 dias
A lei nº 12.732/2012 estabelece que pacientes com câncer diagnosticados pelo SUS devem iniciar o tratamento em, no máximo, 60 dias, contados a partir do diagnóstico — por isso, ela é popularmente chamada de Lei dos 60 dias.
Padilha explicou nesta sexta que, para cumprir essa meta, além do esforço para acelerar o diagnóstico, o governo vai investir na expansão dos serviços de radioterapia.
“Um dos principais gargalos para o início do tratamento em 60 dias é exatamente a radioterapia. Estamos inaugurando novos equipamentos. Serão 121 até o próximo ano”, afirmou.
Antes do lançamento do Super Centro, Padilha também esteve no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e no Instituto do Coração (Incor), nos quais anunciou um aporte de recursos do Agora tem Especialistas.
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