
Publicado em 18/06/2025 - 09:53 / Clipado em 25/06/2025 - 09:53
Philips lança primeira tomografia com IA do mercado e defende regulamentação da inteligência artificial
Felipe Basso, diretor geral da Philips América Latina, fala sobre IA, regulamentação e desafios do sistema de saúde do Brasil.
Por Rafael Machado
A Philips anunciou a chegada do primeiro equipamento de tomografia computadorizada do mercado desenhado para a utilização de inteligência artificial. O lançamento foi feito na 55ª edição da Jornada Paulista de Radiologia (JPR 2025), em maio, e promete trazer mais eficiência com diminuição da dose de radiação aplicada, além de otimizar a velocidade e a qualidade das imagens.
Em entrevista ao Futuro da Saúde, Felipe Basso, diretor geral da Philips América Latina, explica que o fato da empresa ter um portfólio de softwares possibilitou unir a tecnologia da IA aos equipamentos. Em um cenário de evolução rápida, investir na atualização de softwares, sem tornar o hardware obsoleto, é importante para o setor.
“Cada vez mais pessoas estão consumindo serviços de saúde e não formamos mão de obra nessa mesma velocidade. Os recursos humanos estão cada vez mais escassos e difíceis de treinar e, neste contexto, o uso de inteligência artificial complementa o trabalho dos profissionais, com ferramentas que ajudam a dar uma experiência melhor para o paciente”, observa.
Basso aponta que a Philips tem capacidade de explicar aos prestadores sobre os bancos de dados utilizados no treinamento da IA de seus produtos, e também reforça que o setor de dispositivos médicos é altamente regulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Há um filtro muito grande para conseguir homologação de um ente regulador, dependendo do nível de inteligência artificial, antes de lançar qualquer ferramenta e tecnologia. O principal desafio e oportunidade na indústria de saúde é que a nossa IA passa por um processo mais rigoroso de certificação. Temos um cuidado muito grande para não colocar nada que não tenha passado por um processo regulatório no mercado, mesmo melhorias de IA, que talvez venham muito mais rápido em outros setores”, afirma o diretor geral.
Hoje, softwares e dispositivos médicos passam por avaliação da Anvisa, que observa o relatório justificando técnica de IA aplicada, histórico de treinamento, tamanho e descrição das bases de informações usadas para atividades de aprendizado. O executivo é a favor de uma regulamentação sobre o tema no Brasil. Neste escopo, a Câmara dos Deputados se debruça sobre um projeto de lei sobre IA, já aprovado pelo Senado.
“Qualquer indústria não regulada pode ter um potencial de inovação. Na saúde é relativamente fácil, em uma escala pequena, criar uma coisa muito legal. O desafio é escalar para um sistema de saúde que tem que atender 210 milhões de pessoas e que aquela ferramenta, qualquer que seja, não vai poder parar no momento que tem um paciente em uma mesa cirúrgica, por exemplo. É muito importante manter, principalmente na saúde, uma regulação”, observa Felipe Basso.
Outros usos de IA na Philips, SUS e interoperabilidade
A inteligência artificial tem sido importante para o desenvolvimento de produtos do setor de dispositivos médicos. Para além disso, Basso explica que um dos principais usos da tecnologia deve ser para a manutenção de equipamentos. Com elas, é possível realizar análises preditivas sobre possíveis falhas, o que contribui com os sistemas de saúde.
“Conseguimos identificar que pode ter um problema, fazer uma manutenção preventiva ou uma análise preventiva daquela máquina para tomar uma decisão. Tem que trocar a peça, tem que fazer um ajuste de calibragem ou um problema do ambiente? As salas de diagnóstico frequentemente têm ambientes controlados do ponto de vista de temperatura, então a IA começa a permear todos os aspectos do dia a dia”, avalia o executivo.
Para Basso, a harmonização da disponibilidade de tecnologias no SUS é um dos grandes desafios do sistema público. A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) é considerada um bom exemplo para o diretor geral, pois busca padronizar a qualidade dos hospitais, focada no custo-efetividade do seu uso.
“Vejo progresso no setor público, mas ainda tem muita fragmentação e disparidade dependendo da geografia da região. Harmonizar e criar soluções mais escaláveis é fundamental. Quando pensamos em um equipamento individual é fácil comprar individualmente, mas quando falamos de sistemas, por exemplo, quanto maior for a operação, mais proveito tira dessa ferramenta”, afirma Basso.
O executivo acredita ser difícil pensar em uma incorporação de tecnologia, via processo de avaliação de tecnologia em saúde (ATS), para dispositivos médicos robustos. Isso porque existe uma grande diferença entre os equipamentos de saúde e as necessidades de tecnologias. A adoção de novos modelos de contratação pode ser uma saída para o setor, mais do que adquirir produtos em si, via modelo de compartilhamento de risco ou parceria público-privada.
A interoperabilidade é outra possibilidade para reduzir os custos na saúde, o que contribui com a eficiência dos sistemas. “O DATASUS tem criado pequenos avanços, mas sempre contínuos, porque não consegue fazer essa virada do dia para a noite. O Sistema Unimed também tem buscado formas de criar compartilhamento de dados. O grande dilema é o custo e quem vai pagar”, explica o diretor geral da Philips América Latina.
Basso defende que obrigar a interoperabilidade na saúde suplementar pode onerar o sistema e acabar impactando a assistência. Em sua visão, o ideal é realizar uma construção “a seis mãos” — com governo, indústria e prestadores de serviços –, para construir um caminho gradual para o compartilhamento de dados.
“É muito fácil, por exemplo, em um país com 15 milhões de habitantes, criar um sistema único. Aqui temos três níveis de governo prestando serviço para 75% da população e mais o privado que complementa esse sistema. Articular uma federação e mover esse sistema de saúde brasileiro é muito mais difícil”, observa.
https://futurodasaude.com.br/philips-inteligencia-artificial/
Veículo: Online -> Site -> Site Futuro da Saúde