
Publicado em 23/06/2025 - 10:45 / Clipado em 24/06/2025 - 10:45
Rede privada de saúde vai testar compartilhamento de dados de pacientes
Liderado pelo InovaHC, projeto quer integrar informações de diferentes instituições mediante autorização dos usuários
Vitória Macedo
São Paulo
Um projeto que reúne diferentes hospitais privados, laboratórios e operadoras de plano de saúde pretende integrar as informações dos pacientes dessas instituições.
Liderado pelo InovaHC, núcleo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, o projeto busca testar a interoperabilidade, que é a integração e o compartilhamento de dados dos pacientes —com autorização dos usuários—, permitindo o acesso de profissionais de diferentes instituições às informações.
A ideia, afirmam, é facilitar o atendimento —o paciente não precisará informar sobre alergias, histórico de cirurgias ou outras doenças, por exemplo, agilizando o processo.
Os dados já existem porque a maioria dos hospitais e laboratórios possui um sistema interno de informações. Para integrá-los, contudo, as instituições precisam seguir os mesmos protocolos.
O projeto diz se inspirar no modelo do mercado financeiro, que utiliza o open finance (sistema aberto de compartilhamento de dados financeiros) para permitir que bancos e instituições troquem informações com a autorização do cliente.
O InovaHC afirma que, para o paciente, haveria redução de exames desnecessários e acesso mais rápido a informações críticas. Para os médicos, melhoraria a tomada de decisão e reduziria erros.
"A gente tem muitas expectativas de que isso possa reduzir custo ou aumentar a segurança nos tratamentos e outros benefícios que a gente vai aprender ao longo do tempo", diz Marco Bego, diretor do InovaHC. A ideia é que o primeiro teste comece em 90 dias.
Bego cita como exemplo o atendimento do HC em comunidades indígenas do Alto Xingu, onde pacientes perdiam laudos ao serem transferidos para centros especializados.
"Se eu não começar a trocar dados, não adianta eu ficar levando eventos para mais longe se, quando a pessoa precisa de um atendimento que é mais urgente, mais crítico, ela tem que entrar na fila de novo."
O projeto, diz o InovaHC, começou cerca de três anos atrás, com a organização de informações.
Outros atores do setor que produzem dados, como hospitais, laboratórios diagnósticos e redes de farmácias, também participam do projeto.
Entre os participantes que estão na fase final de negociação para o primeiro teste do produto estão os hospitais Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa, além de Santas Casas, laboratórios Fleury, Dasa e Sabin, redes de farmácias Raia e Drogasil e a Bradesco Saúde.
Para Daniel Greca, diretor de inovação e saúde populacional do Sírio-Libanês e membro do comitê executivo, o projeto é inovador e diferente e requer testes para entender como deve funcionar na prática.
"A partir do momento em que você consegue conectar tudo isso, as informações fluindo devidamente protegidas, lógico, a gente consegue ter um entendimento melhor do que acontece no sistema de saúde e na jornada do paciente", afirma.
O projeto é feito com o acompanhamento do Ministério da Saúde, especificamente de Ana Estela Haddad, secretária de informação e saúde digital da pasta. A expectativa é que haja também uma troca de dados entre os sistemas público e privado.
O governo já utiliza uma política de interoperabilidade no SUS (Sistema Único de Saúde) —a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) armazena dados de municípios, estados e instituições federais nos padrões da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Sobre a proteção das informações, Bego, do InovaHC, diz que que o projeto "não quer, de maneira alguma, fugir do que já é consenso". "A LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais] é uma lei, e eu tenho que segui-la."
Em documento de 2024, o Idec (Instituto de Defesa de Consumidores) afirmou que, embora a integração de dados possa ser utilizada para potencializar a gestão e o acesso à saúde, "o compartilhamento de dados também pode resultar em abusividades e discriminações" se as informações forem usadas para fins não relacionados a assistência ou interesse público.
Veículo: Online -> Portal -> Portal Folha de S. Paulo
Seção: Saúde