
Publicado em 26/05/2025 - 09:32 / Clipado em 02/06/2025 - 09:32
Um tipo de mamografia é melhor para mulheres com seios densos, revela novo estudo
Pesquisadores compararam vários tipos de exames e descobriram que a mamografia com contraste à base de iodo pode detectar três vezes mais cânceres invasivos
Por Roni Caryn Rabin , Em The New York Times
O rastreamento do câncer representa um dilema para mulheres com tecido mamário denso. Elas apresentam risco elevado de câncer de mama, mas as mamografias muitas vezes não detectam tumores localizados em mamas densas — e os planos de saúde podem resistir a pagar por exames adicionais que ajudam a identificar as massas.
Agora, um grande estudo comparando vários tipos de exames descobriu que a mamografia enriquecida com contraste à base de iodo pode detectar três vezes mais cânceres invasivos no tecido mamário denso do que o ultrassom.
E a chamada mamografia com contraste pode encontrar tumores muito menores do que os encontrados pela mamografia convencional. O estudo concluiu que as ressonâncias magnéticas são melhores na detecção de mais tumores do que as mamografias convencionais, mas são consideravelmente mais caras.
Os exames foram feitos em mulheres com tecido mamário denso que já tinham feito mamografias que não revelaram nenhuma anormalidade.
— A mamografia com contraste precisa se tornar o tratamento padrão para mulheres com mamas densas, caso elas apresentem alto risco de desenvolver câncer de mama — afirmou Fiona J. Gilbert, professora de radiologia na Faculdade de Medicina Clínica da Universidade de Cambridge. Ela é a autora principal do estudo, publicado na revista The Lancet.
Os tumores geralmente aparecem como manchas brancas nas mamografias, mas o tecido mamário denso também aparece branco, obscurecendo os tumores.
— Quando você tem muito tecido mamário branco normal, é difícil ver os cânceres brancos, mas quando você faz o contraste, os cânceres absorvem o iodo, e tudo o que você vê é esse câncer se iluminando — disse Gilbert.
Um amplo estudo holandês publicado em 2019 mostrou que a ressonância magnética é mais eficaz do que a mamografia padrão na detecção de tumores em tecido mamário denso. O novo estudo é o primeiro ensaio clínico randomizado e controlado a comparar ressonância magnética, ultrassonografia e mamografia com contraste em mulheres com tecido mamário denso.
JoAnn Pushkin, diretora executiva do grupo educacional DenseBreast-info, disse que o estudo mostrou que mamografias com contraste podem salvar vidas. Elas não apenas encontraram mais tumores, como também os detectaram quando ainda eram pequenos e não haviam se espalhado para os gânglios linfáticos.
— Isso significa que esses cânceres foram descobertos cedo o suficiente para que a maioria ainda estivesse contida na mama. Foram tragédias evitadas. Se não tivessem sido descobertos, teriam se espalhado sem serem detectados até se tornarem histórias de terror — afirma Pushkin.
Mas, embora a mamografia com contraste esteja disponível em alguns centros nos Estados Unidos, seu uso para o rastreamento do câncer de mama não foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA). (É mais frequentemente usada como ferramenta de diagnóstico após o surgimento de achados suspeitos em uma mamografia comum.)
Em parte, isso se deve à preocupação com reações alérgicas ao agente de contraste, que são incomuns, mas podem ser graves, de acordo com Wendie Berg, professora de radiologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh e consultora científica-chefe do DenseBreast-info.
Gilbert, principal autora do estudo, também alertou que, embora exames de imagem adicionais possam levar à detecção mais precoce em mulheres com mamas densas, eles também podem aumentar o sobrediagnóstico e o sobretratamento de uma condição médica que pode nunca se tornar fatal se não for tratada.
— No entanto, a maioria dos tumores detectados com os exames com contraste era, na verdade, invasiva e potencialmente fatal — disse Berg.
Esses cânceres se manifestam mais facilmente quando se utiliza contraste.
— As mamografias com contraste são mais econômicas do que as ressonâncias magnéticas e poderiam ser disponibilizadas mais amplamente nos centros de mamografia existentes com treinamento da equipe e, às vezes, atualizações tecnológicas — revelou Pushkin.
O novo estudo, realizado em 10 locais de triagem no Reino Unido entre 18 de outubro de 2019 e 30 de março de 2024, foi o tipo de estudo considerado o padrão ouro na medicina.
Mais de 9.000 mulheres com idades entre 50 e 70 anos, com tecido mamário denso e mamografias normais, foram aleatoriamente selecionadas em números aproximadamente iguais para realizar mamografia digital padrão, ressonância magnética, ultrassonografia ou mamografia com contraste. Cerca de 6.305 realizaram os exames de imagem adicionais.
As ressonâncias magnéticas detectaram 17,4 cânceres a cada 1.000 exames, enquanto as ultrassonografias encontraram apenas 4,2 cânceres a cada 1.000 exames. As mamografias com contraste detectaram 19,2 cânceres a cada 1.000 exames, mas a diferença entre a ressonância magnética e a mamografia com contraste não foi estatisticamente significativa.
A maioria dos cânceres tinha menos de dois centímetros de tamanho e não havia se espalhado para os gânglios linfáticos.
Nem todos os tumores eram invasivos. As ressonâncias magnéticas revelaram 15 cânceres invasivos a cada 1.000 exames, as ultrassonografias encontraram 4,2 cânceres invasivos a cada 1.000 exames e a mamografia com contraste detectou 15,7 cânceres invasivos a cada 1.000 exames.
A pesquisa não acompanhou os pacientes por tempo suficiente para saber se o uso da mamografia com contraste reduziria as mortes.
Gilbert e seus colegas revelaram que detectar cânceres quando ainda são menores deve levar a melhores resultados, mas o grau do câncer — uma medida de sua anormalidade e, portanto, de sua agressividade — também é importante.
Houve eventos adversos associados ao uso do corante de iodo. Vinte e quatro pacientes submetidas a mamografias com contraste apresentaram reações, e três apresentaram o chamado extravasamento, no qual o corante vaza dos vasos sanguíneos para o tecido adjacente.
Não houve eventos adversos associados ao ultrassom, e houve um caso de extravasamento entre as mulheres que passaram por ressonâncias magnéticas, nas quais às vezes é usado contraste.
Entre os participantes do estudo cujo câncer foi descoberto durante uma ressonância magnética complementar estava Louise Duffield, 60 anos, que mora em Ely, perto de Cambridge.
Duffield foi convidada a participar do estudo em 2023, após sua mamografia de rotina mostrar que ela tinha mamas muito densas. Quando ela voltou para uma nova ressonância magnética, o exame identificou um pequeno nódulo.
Uma biópsia determinou que o tumor estava em estágio 0, ou muito inicial, e confinado aos ductos mamários. A mulher passou por uma cirurgia para remover o tumor seis semanas depois, quando ele já havia crescido mais do que aparentava nas tomografias, disseram autoridades do hospital.
Devido à localização do tumor, Duffield teria dificuldade em identificá-lo em um autoexame. E como o tumor não foi detectado em sua mamografia regular, ela não teria precisado fazer outro exame por pelo menos três anos, de acordo com as diretrizes do Reino Unido.
Duffield foi tratada com radiação e agora está livre do câncer.
— O tumor estava profundamente na mama, então, se eu não tivesse participado do estudo, ele poderia ter passado despercebido por anos. Sem essa pesquisa, eu poderia ter tido uma experiência muito diferente — disse a participante em um comunicado.
Veículo: Online -> Portal -> Portal O Globo - Rio de Janeiro/RJ