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Publicado em 07/03/2022 - 11:24 / Clipado em 07/03/2022 - 11:24

Ex-presidente do Crea-RJ acredita que extravasor tinha obstruções internas no dia da chuva


Rômulo Barroso - especial para o Diário de Petrópolis

O volume de água que caiu em Petrópolis no dia 15 de fevereiro foi impressionante. Em três horas (entre 15h50 e 18h50), choveu 256 milímetros, mais do que a média histórica da cidade para o mês de fevereiro (236,6 milímetros), como apontou, por exemplo, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Com tanta água, os alagamentos no Centro e outros locais foram enormes. Mas, essa situação poderia ter sido minimizada? O túnel extravasor, canal com mais de três quilômetros que liga a Rua Souza Franco, no Centro, à Rua Pedro Elmer (Quissamã), tem a função de fazer o escoamento do Rio Palatino para o Rio Piabanha. No entanto, para o ex-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Alexandre Duarte, o equipamento pode ter ficado obstruído não apenas na entrada da galeria, mas também em áreas internas, impedindo completamente a passagem da água.

Há dois anos, outra chuva forte provocou danos em diferentes trechos do túnel. A situação mais complicada foi registrada já quase no fim do extravasor, na Rua Francisco Scalli, no Quissamã. Uma cratera se abriu na rua e uma casa correu risco de desmoronar por causa da erosão na lateral da galeria. Na época, Alexandre Duarte foi chamado para elaborar uma proposta de intervenções emergenciais no túnel e, por isso, conferiu o equipamento por dentro. Ele diz que, já naquele momento, "via problemas sérios".

"O teto da galeria afundou em mais um de um ponto. O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) pediu um projeto de recuperação e um orçamento. Eu vistoriei, identifiquei pontos frágeis na estrutura, causados principalmente por várias construções que foram feitas em cima do túnel. E a partir dessas construções, foram abertas galerias para esgoto. Então durante muito tempo ficou caindo detritos ali", conta o engenheiro e ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que atua hoje em dia na iniciativa privada.

Reparos emergenciais
Essa proposta apresentada por Alexandre Duarte ficou orçada em cerca de R$ 1,6 milhão. Mas, o Inea acabou não seguindo. O Instituto promoveu intervenções no local, com investimento menor: R$ 1.140.239,19. Esse trabalho emergencial, segundo divulgado na época, incluiu estabilização dos pontos colapsados no Quissamã, reforço do terreno de suporte, recuperação da laje de fundo, reparos pontuais na estrutura da galeria e recomposição/pavimentação.

A proposta de Alexandre previa essas mesmas intervenções e ainda limpeza e drenagem da galeria, além do escoramento de três casas foram interditadas na época. O engenheiro disse que, após a proposta ter sido rejeitada, não acompanhou mais o processo e, por isso, não tem informações se foi feita remoção de detritos como terra e pedras do interior do túnel, mas acha que "não devem ter removido o entulho".

"Acho que se não tivesse nada dentro do túnel obstruindo a passagem, não aconteceriam alagamentos da mesma forma. A velocidade de escoamento seria bastante grande", avalia. "Nenhum trecho pode ficar fechado, obstruído. É a drenagem de toda água que acontece ali", continua.

Alexandre Duarte ainda avaliou possíveis obstruções na entrada do túnel. Para ele, “deveria ter um mecanismo para impedir esses detritos de entrarem” no extravasor. “Senão, vai acontecer de novo. Independente de obstrução dentro do canal, deveria ter um sistema para evitar isso, porque se fizer ‘barragem’ na entrada do túnel, não passa a água que é para ser escoada”, coloca.

Inea: “estrutura não suportou”
O Instituto Estadual do Ambiente afirmou que, no dia da forte chuva, 15 de fevereiro, "O túnel estava funcionando, apesar de problemas estruturais em alguns trechos". Mas, admite que, "devido a grande carga hidráulica, a estrutura não suportou" a quantidade de água.

O Inea informou, em nota, que desde a chuva de 2020, "foram feitas vistorias no túnel extravasor para verificação das condições da integridade da intervenção emergencial, além das patologias já existentes no local, que por sua vez não apresentaram avanço" e que, "após as chuvas deste ano de 2022, foi realizada vistoria de campo pela equipe do INEA, na qual foram constatados alguns trechos do túnel extravasor danificados, necessitando de recuperação estrutural, além de pontos de pavimentos que devem ser recompostos".

O órgão afirmou ainda que tem um projeto em andamento, com investimento de R$ 4.101.852,92, para estudar alternativas e elaborar projetos para controle de inundações no Centro Histórico de Petrópolis. “As soluções propostas nesse contrato irão nortear a elaboração do orçamento das intervenções para as futuras contratações, a fim de equacionar os problemas das enchentes no Centro Histórico de Petrópolis”, explicou o Instituto.

Obras no extravasor e macrodrenagem na Cel. Veiga serão licitadas ainda no primeiro semestre, promete Inea
Ainda em nota enviada ao Diário, o Inea prometeu que fará, até junho, uma licitação prevendo três intervenções, que priorizam o Centro Histórico: o túnel extravasor do Rio Palatino, o redimensionamento do canal do Centro e do Quitandinha e a macrodrenagem da Coronel da Veiga. O Instituto Estadual do Ambiente informou que já executa um estudo que contempla toda a cidade, custeado pelo governo federal.



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