Publicado em 17/11/2025 - 10:40 / Clipado em 17/11/2025 - 10:40
Risco de colapso: túneis do Rio falham em normas de segurança após inspeção do Crea-RJ
Os túneis do Rio voltaram ao centro das preocupações após o incêndio em um ônibus no Túnel Rebouças, na semana passada, que travou a mobilidade da cidade. A partir desse episódio, uma equipe do jornal O Globo percorreu várias galerias ao lado de engenheiros do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), que apontaram falhas graves em estruturas consideradas essenciais para o trânsito carioca. O diagnóstico reforça a urgência por modernização e manutenção contínua em corredores viários centenários.
Durante as vistorias, os engenheiros Miguel Fernández e Ana Carolina Tavares analisaram oito túneis nas Zonas Sul e Norte — entre eles Rebouças, Santa Bárbara, Zuzu Angel, Rafael Mascarenhas, Noel Rosa, João Ricardo, Rua Alice e Covanca. Juntos, esses trechos recebem cerca de 458 mil veículos por dia útil, mas não atendem a requisitos básicos de segurança.
O levantamento mostrou que todos os túneis avaliados descumprem normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Foram identificados problemas recorrentes, como falta de recuos para veículos com pane, ausência de telefones de emergência, hidrantes despressurizados, mangueiras inadequadas, sinalização deficiente de rotas de fuga, ventilação insuficiente e sistemas de alarme frágeis.
Dados do setor de fiscalização do Crea-RJ mostram que, entre 2006 e 2025, apenas 15 dos 28 túneis da cidade tiveram Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) registradas. O Rebouças reúne 35 ARTs e o Santa Bárbara, dez. Já 13 túneis nunca tiveram o documento emitido, como os da Rua Alice, Alaor Prata, Engenheiro Marques Porto e José Alencar. Para o engenheiro Miguel Fernández, a ausência da ART não implica risco imediato, mas acende um alerta em estruturas que antecedem legislações modernas, como o Túnel da Rua Alice, de 1886.
O Túnel João Ricardo, inaugurado em 1919, é apontado como o caso mais crítico. Escavado diretamente na rocha, sem revestimento, apresenta infiltrações em toda a extensão, erosão, fiação exposta e ausência de ventilação. A situação se agravou após um incêndio registrado em julho. No Santa Bárbara, foram identificados danos causados pela queda de parte de um muro de contenção, além de ventiladores irregulares. Os túneis Noel Rosa, Zuzu Angel e Rafael Mascarenhas não possuem qualquer sistema de ventilação.
Na contramão dos problemas, o Rebouças — onde ocorreu o recente incêndio — não apresenta falhas estruturais relevantes. As placas de concreto são novas e não há infiltrações, embora a engenheira Ana Carolina recomende ampliação da ventilação do sentido Centro. Entre os melhor avaliados está o Túnel da Covanca, na Linha Amarela, onde a concessionária Lamsa instalou extintores, sistemas de sirene, painéis de mensagem e megafonia no fim de 2024. A instalação de hidrantes está prevista para 2026.
Especialistas defendem que avanços só serão possíveis com adoção de tecnologias modernas usadas em túneis internacionais. O professor Alexandre Landsman, da Coppe/UFRJ, cita ventilação automatizada e sensores inteligentes, além dos “gêmeos digitais”, softwares que simulam incêndios e infiltrações para orientar intervenções estratégicas. Para ele, a modernização depende menos de capacidade técnica e mais de decisões contínuas de gestão.
A prefeitura reconhece a gravidade da situação no Túnel João Ricardo e promete lançar um edital emergencial para reparos. Entre 2022 e 2024, o município investiu R$ 140 milhões em readequações e prevê mais R$ 15 milhões até 2026. De acordo com o órgão, 120 câmeras monitoram as galerias, algumas com recursos de inteligência artificial para detectar fumaça e veículos parados.
No dia 19, a prefeitura participará de uma reunião com o Corpo de Bombeiros, que vistoriou 25 túneis e aprovou apenas dois: Via Binário e Marcello Alencar. Preocupado com a fiscalização limitada, o vereador Pedro Duarte (Novo) apresentou, em conjunto com o Crea-RJ, um projeto de lei para exigir laudos independentes a cada cinco anos.
Veículo: Online -> Site -> Site Povo Na Rua