
Publicado em 08/09/2025 - 14:44 / Clipado em 08/09/2025 - 14:44
Crea-RJ alerta que quedas em calçadas elevam custos da saúde pública
Durante audiência na Câmara do Rio, especialistas defenderam padronização das calçadas e criticaram riscos das pedras portuguesas.
O mau estado das calçadas do Rio de Janeiro voltou ao centro do debate público nesta semana. Na audiência “Calçadas do Rio: realidade, desafios e soluções”, realizada na Câmara Municipal, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ), Miguel Fernández, destacou que os acidentes em calçadas têm gerado impactos diretos no orçamento da saúde.
“Os acidentes nas calçadas representam hoje o maior custo indireto em termos de mobilidade na saúde pública”, afirmou o engenheiro, ressaltando que o problema exige mobilização conjunta do poder público e da sociedade. A fala foi confirmada pelo vereador Pedro Duarte (Novo), presidente da Comissão de Assuntos Urbanos e responsável por promover a audiência.
Pedras portuguesas em debate
Fernández, graduado e mestre em Engenharia Urbana pela UFRJ, também apontou que o calçamento em pedras portuguesas é hoje o mais caro e de maior risco para a população carioca. A afirmação foi corroborada pelo português Carlos Molina, presidente do Conselho Empresarial do Ecossistema da Longevidade da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Ele lembrou que até Lisboa, berço das pedras portuguesas, vem substituindo esse modelo por alternativas mais seguras e econômicas.
Molina defende que a Câmara avance na aprovação de uma lei que padronize as calçadas da cidade e torne obrigatório o registro de quedas nas unidades de saúde. Para ele, a medida ajudaria a mensurar com precisão os impactos e orientar políticas públicas.
Reclamações da população e dados oficiais
Durante a audiência, Pedro Duarte apresentou dados do canal 1746 da prefeitura: entre janeiro de 2023 e junho de 2025, foram registrados mais de 35 mil pedidos de reparos em calçadas, principalmente por buracos e obstruções. A Zona Norte concentra a maior parte das queixas.
A Comissão também promoveu no Instagram um concurso para identificar a pior calçada do Rio. O “título” ficou com a Rua Mário Piragibe, em Lins de Vasconcelos, seguida da Estrada do Barro Vermelho, em Colégio, e da Rua Cosme Velho, na Zona Sul.
“O número de denúncias cresce a cada ano. Faltam acessibilidade e manutenção, o que gera acidentes graves”, disse Duarte. Ele lembrou que a legislação atual impõe a responsabilidade ao proprietário do imóvel em frente, mas reforçou que a calçada é um bem público. “De quem é a responsabilidade?”, questionou.
Propostas e soluções
O presidente do Crea-RJ defendeu mudanças legais para que a manutenção das calçadas seja tratada como dever coletivo. Ele sugeriu ainda a criação de um sistema unificado para registrar obras de concessionárias, reduzindo o impacto dos reparos na qualidade das ruas e do subsolo.
Fernández citou como exemplo o programa Calçada Acessível, criado pela Firjan há 15 anos e já presente em 50 municípios fluminenses. O projeto foi implantado em Teresópolis, onde um piso intertravado com espaço tátil amarelo auxilia pessoas com deficiência física.
A arquiteta Regina Cohen, integrante do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, reforçou que a falta de acessibilidade é um dos maiores problemas da cidade. Ela criticou leis que favoreceram a ocupação de calçadas por bares e restaurantes. O arquiteto Sérgio Magalhães, professor da UFRJ, também condenou a prática: “Os bares e restaurantes não podem ocupar tudo como estão ocupando”, disse, sendo aplaudido pelo público.
Participação ampla
Além de Fernández e Duarte, participaram da mesa o arquiteto Sérgio Magalhães; o urbanista Luiz Gustavo Tavares Guimarães, da Firjan; o arquiteto Carlos Abreu, vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU-RJ); a arquiteta Regina Cohen; e Carlos Molina, da Associação Comercial.
O consenso entre os especialistas foi claro: sem padronização, acessibilidade e responsabilidade compartilhada, os problemas das calçadas continuarão a comprometer tanto a mobilidade urbana quanto os cofres da saúde pública.
Mais informações sobre o debate estão disponíveis no site oficial da Câmara Municipal do Rio: https://www.camara.rj.gov.br.
Veículo: Online -> Site -> Site Gazeta Niteroiense