
Publicado em 09/08/2024 - 13:11 / Clipado em 09/08/2024 - 13:11
Após incêndio na Linha Amarela, Corpo de Bombeiros decide vistoriar túneis e mergulhões do Rio
Lamsa deverá regularizar sistema de ventilação e exaustão mecânica de gases no túnel da Covanca em 24 horas; fumaça proveniente de incêndio em caminhão deixou 110 pessoas feridas, duas em estado grave
O Corpo de Bombeiros anunciou que irá fazer uma vistoria nos túneis e mergulhões da cidade do Rio, após o episódio de incêndio em um caminhão no túnel da Covanca, na Linha Amarela, nesta quinta-feira. Por causa da fumaça provocada pelo fogo, 110 pessoas precisaram de atendimento médico. Duas delas estão internadas em estado grave. Depois de uma vistoria, os bombeiros deram um prazo de 24 horas para que a Lamsa, concessionária que administra a via expressa, realize a manutenção do sistema de ventilação e exaustão mecânica de gases, nos túneis da via, incluindo o da Covanca. A empresa terá ainda 60 dias para obter o Certificado de Aprovação junto à corporação. O não cumprimento das medidas poderá resultar na interdição das estruturas.
— Determinei que, a partir de amanhã (hoje), os quartéis do CBMERJ de todo o Estado realizem, preventivamente, vistorias inopinadas em todos os túneis e mergulhões. O objetivo é conscientizar sobre a importância da cultura de prevenção e garantir a segurança da população — afirmou o secretário de Estado de Defesa Civil e comandante-geral do CBMERJ, coronel Leandro Monteiro.
Imagens de pessoas correndo desorientadas entre carros parados, com baixa visibilidade em meio à densa fumaça, dentro do Túnel Engenheiro Raimundo de Paula Soares, mais conhecido como Túnel da Covanca, dão a dimensão dos momentos de tensão vividos por quem passava pela Linha Amarela na manhã de ontem. Um caminhão de uma distribuidora de bebidas pegou fogo na pista no sentido da Ilha do Fundão às 7h19. Pelo menos110 pessoas foram atendidas em hospitais públicos e privados — duas permaneciam em estado grave no início da noite de ontem.
A auxiliar administrativa Ana Karollyna Campos, de 19 anos, dormia no ônibus, a caminho do trabalho, e demorou para entender o que estava acontecendo. Ao despertar com o falatório dentro do coletivo, viu que os outros passageiros estavam de pé.
— Levantei também. A gente não sabia o que estava acontecendo. Ouvimos um barulho de explosão, pensamos em arrastão. Quando descobrimos, decidimos saltar, até porque estávamos muito perto do caminhão. A gente não sabia se ele poderia explodir — contou a jovem, que registrou em vídeo os momentos de desespero dentro do túnel.
Sem auxílio ou qualquer sinalização visível, os passageiros começaram a buscar uma saída. No vídeo que registra instantes de incerteza vividos pelo grupo é possível ouvir frases ditas em tom de desespero: “Não dá nem para respirar”; “Socorro”; “Gente, não é possível”. Ana calcula ter ficado cerca de dez minutos no túnel:
— Eu estava com muito medo. Muito. Me sentindo sozinha. Eu estava em desespero naquela escuridão. Realmente parecia que estava de noite.
Depois dos momentos de pavor para sair do túnel, tossindo muito, tonta, com a garganta ardendo e sentindo dor de cabeça, Ana conseguiu uma carona para ir ao Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. A jovem ficou no oxigênio, foi medicada e recebeu alta no início da tarde.
Carros abandonados
O incêndio causou um grande nó no trânsito da cidade. Em meio ao engarrafamento, a imagem de uma coluna de fumaça saindo de dentro do túnel impressionava. Cerca de 30 carros foram abandonados dentro do túnel por motoristas que buscaram fugir do local. Alguns contaram com a solidariedade de motociclistas e ganharam carona em direção à saída. De acordo com a Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela, a via ficou totalmente fechada nos dois sentidos das 7h19 até as 8h24, quando a pista sentido Barra foi liberada. Somente às 10h45, uma das faixas para o Fundão foi aberta. A normalização total do tráfego, no entanto, só ocorreu por volta das 14h, ou seja, quase sete horas depois do acidente.
O episódio revelou fragilidades no plano de contingência. A reportagem percorreu o Túnel da Covanca, ontem, nos dois sentidos, e não conseguiu identificar a existência de extintores ou hidrantes, nem de sinalização de rotas de fuga e saídas de emergência. Uma nota técnica no site do Corpo de Bombeiros do Rio preconiza que túneis rodoviários devem ter à disposição, entre outros itens, hidrantes e extintores, no mínimo a cada 60 metros de distância. Caso seguisse essa recomendação, o túnel da Linha Amarela, com 2.180 metros, teria que ter pelo menos 36 desses equipamentos em cada galeria.
Perguntada sobre a quantidade de hidrantes e extintores disponíveis, a Lamsa informou que “conta com viaturas de combate a incêndio e caminhão-pipa, além de caminhões guinchos, equipes de UTI e resgate para atendimento às vítimas”. Sobre equipamentos de ventilação, a concessionária diz ter 41 jatos ventiladores que “funcionaram normalmente e auxiliaram a extração da fumaça”.
— Nesses casos é importante que haja uma ação rápida para que os equipamentos sejam acionados a tempo e evitem as imagens que vimos de muita fumaça acumulada em meio às pessoas. Seria bom também haver um sistema de som capaz de passar orientações para as pessoas — disse o engenheiro mecânico Jaques Sherique.
Túnel sem certificado
O Corpo de Bombeiros informou, em nota, que a Lamsa tem “24 horas para realizar a manutenção do sistema de ventilação e exaustão mecânica de gases e 60 dias para obtenção do Certificado de Aprovação. O não cumprimento poderá resultar na interdição das estruturas”.
“É fundamental que os responsáveis legais sigam os requisitos prescritos nas Notas Técnicas do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio, que incluem sinalização de segurança, iluminação de emergência, sistema de detecção e alarme de fumaça e gases, sistema de ventilação, sistema de proteção por extintores e hidrantes, entre outros”, disse o secretário de Defesa Civil e comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Leandro Monteiro.
O Crea-RJ informou que a Lamsa tem Anotações de Responsabilidade Técnica (ART) recentes de duas empresas contratadas para a prestação de serviços relativos a projetos de segurança contra incêndio e pânico.
— Acidentes como esse impactam as pessoas e afetam tremendamente a mobilidade urbana. A fiscalização do Crea-RJ vai enviar equipe ao local para averiguar as condições de operação e manutenção da Linha Amarela — disse Miguel Fernández, presidente do conselho.
De acordo com a CET-Rio, o tráfego de caminhões no Túnel da Covanca está liberado, sendo restrita apenas a circulação de cargas consideradas “perigosas”. Ao site g1, a Rio de Janeiro Refrescos, dona do caminhão incendiado, informou que “investiga as causas do incêndio” e que os funcionários que estavam no veículo não se feriram. A empresa expressou solidariedade “com as pessoas impactadas pelo acidente”.
Em dezembro de 2011, um incêndio no mesmo Túnel da Covanca parou a cidade. Na época, as chamas tomaram um ônibus, levando à interdição da Linha Amarela por três horas e 38 minutos.
Com informações do GLOBO.
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