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Portal O Globo - Rio de Janeiro/RJ

Publicado em 03/07/2024 - 13:10 / Clipado em 03/07/2024 - 13:10

Sobe e desce de risco: Corpo de Bombeiros já registrou mais de 1.600 ocorrências em elevadores no Estado do Rio este ano


Média é de 18 casos por dia; resgates feitos pela corporação aumentaram 14%


Por Carmélio Dias e * Lucas Guimarães — Rio de Janeiro

 

Com maior ou menor intensidade, quase todo mundo já experimentou, pelo menos uma vez, certo receio ao usar um elevador. Os temores e questionamentos quanto ao meio de transporte, considerado seguro por especialistas, ganharam impulso esta semana diante de três casos ocorridos num intervalo de cerca de 24 horas, entre domingo e segunda-feira. No Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, Zona Norte do Rio, um paciente permaneceu 16 minutos num elevador que parou entre os andares. Após o resgate, e uma parada cardiorrespiratória, ele morreu. Na manhã de segunda-feira, uma mulher ficou ferida quando um elevador na sede da Secretaria estadual de Fazenda, no Centro, bateu no teto do edifício. Na tarde daquele mesmo dia, um homem de 40 anos morreu, em Copacabana, na Zona Sul, após a queda de um equipamento em um prédio residencial. As duas mortes são investigadas pela Polícia Civil.

 

São 18 casos por dia

Os três casos já entraram para a estatística do Corpo de Bombeiros, que registrou 1.656 ocorrências em elevadores no estado este ano, até ontem — uma média de 18 casos por dia. Desses, 1.342 só na capital. O número é 14% maior que o registrado no mesmo período do ano passado: 1.451, dos quais 1.196 na cidade do Rio. Durante todo o ano de 2022 foram 2.200 casos, contra 1.746 em 2021 e 1.802 em 2020.

— É importante frisar que em mais de 90% desses casos as vítimas são resgatadas bem, lúcidas. A grande maioria dos casos é apenas de interrupção do funcionamento, quando as pessoas ficam retidas dentro da cabine por um tempo, aguardando o socorro — diz o major Fábio Contreiras, porta-voz dos bombeiros.

Contreiras salienta que os casos mais graves acontecem apenas quando os sistemas de segurança dos elevadores não funcionam e que, por isso, é importante que seja cobrada dos responsáveis a correta manutenção dos equipamentos. De acordo com Jaques Sherique, coordenador da Câmara de Engenharia Mecânica do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), o correto é que o trabalho preventivo seja realizado mensalmente e por profissional devidamente habilitado para a função.

— Muitos dos acidentes ocorrem quando as pessoas que vão fazer a manutenção não seguem as normas necessárias de reparos mecânicos, elétricos, hidráulicos que existem nesses equipamentos. O elevador é um aparelho muito sensível. As pessoas pensam no elevador só para manutenção corretiva ou seja, quando apresenta um ruído ou falhas, mas ele deve ser mantido preventivamente pelo menos uma vez por mês — disse Jaques Sherique, que é engenheiro mecânico e de segurança do trabalho.

Segundo Sherique, o Crea-RJ, juntamente com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), trabalha em projeto para disponibilizar, em cada elevador, um QR Code por meio do qual seja possível acessar dados técnicos e o histórico de manutenção do equipamento, o que facilitaria o trabalho de fiscalização e de acompanhamento pelos usuários.

Ontem, após a repercussão dos três casos ocorridos na cidade, o Crea-RJ anunciou a criação de uma comissão para tratar da fiscalização do exercício legal da profissão de engenheiros na “instalação, manutenção e modernização de elevadores”.

— Os acidentes que ocorreram no Rio demonstram a importância de um bom serviço de manutenção desse meio de transporte. Infelizmente nem sempre aqueles que são responsáveis pela operação e manutenção dos prédios se preocupam em contratar empresas e profissionais que tenham a devida qualificação e registros nos conselhos profissionais para exercer essa atividade — disse o engenheiro Miguel Fernández, presidente do Crea-RJ.

Em nota, a autarquia alegou que essa fiscalização tem sido prejudicada porque empresas do setor obtiveram mandado de segurança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em 1996, para deixar de pagar as taxas de Anotação de Responsabilidade Técnica para os serviços.

 

Manutenção anual

A necessidade de correta manutenção dos equipamentos é ainda maior numa cidade como o Rio, onde uma parcela importante dos equipamentos em atividade é considerada antiga.

— Como o Rio foi por muito tempo capital do país, as tecnologias chegavam primeiro aqui. Então ainda temos muitos elevadores antigos. Esses equipamentos atendiam às normas da época em que foram instalados, mas com o tempo essas normas foram aperfeiçoadas, assim como a tecnologia, e nem todos acompanharam. Por isso é tão importante uma manutenção constante, mensal — diz Diego Sarzedas, consultor técnico da Schmersal, empresa fornecedora de sistemas de segurança para a indústria.

O GLOBO esteve ontem no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, no Fundão, onde 11 dos 16 elevadores estavam parados. Um problema antigo, que a nova gestão promete resolver. As filas são sempre grandes. No prédio da Reitora, também no Fundão, se locomover entre os andares requer paciência: dos cinco elevadores que servem aos oito pavimentos, dois estavam inoperantes. Funcionários comentaram que a situação costuma ser pior. Procurada, a UFRJ não se pronunciou.

 

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