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 Site Extra - Rio de Janeiro/RJ

Publicado em 25/12/2023 - 11:39 / Clipado em 26/12/2023 - 11:39

De olho nos megaeventos: novo presidente do Crea diz que vai fiscalizar carros alegóricos que desfilam na Sapucaí


Grandes blocos, construções irregulares e até operação da SuperVia passarão pelo crivo do engenheiro Miguel Fernandez y Fernandez


Por Luiz Ernesto Magalhães — Rio de Janeiro

 

Presidente eleito do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), Miguel Fernandez Y Fernandez toma posse no próximo dia 2 com planos de tornar o órgão menos burocrático. Uma das primeiras medidas será criar uma equipe voltada para fiscalizar os grandes eventos realizados no estado. O tema já vinha sendo debatido na campanha eleitoral quando, durante uma onda de calor, em novembro, a estudante Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu no Engenhão durante o show da cantora Taylor Swift, o que reforçou a proposta. A estreia do grupo está prevista para o carnaval.

— A gente quer que o Crea tenha um papel mais ativo, que debata com a sociedade as grandes questões que são de sua atribuição. Semelhante ao que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) desempenha, por exemplo. E não apenas ser um órgão que controla e fiscaliza a arrecadação de taxas dos seus filiados — disse o engenheiro.

 

Como será essa fiscalização de grandes eventos?

No primeiro ano, a gente vai se concentrar nas escolas de samba que desfilam na Marquês de Sapucaí. Vamos verificar as condições de segurança dos carros alegóricos nos barracões da Cidade do Samba e no momento dos preparativos finais na concentração da Passarela, já que partes da estrutura só terminam de ser montadas horas antes dos desfiles. Os técnicos estão devidamente registrados ou não? Se houver necessidade de um reparo de emergência, uma solda, por exemplo, o engenheiro que se declara responsável pelo carro alegórico está presente para acompanhar o conserto? São questões a serem esclarecidas nas fiscalizações. Nos próximos anos, mais estruturados, também acompanharemos os megablocos que saem no Centro.

E como se dará a atuação em outros megaeventos, como shows, clássicos de futebol e réveillon?

Nossa avaliação é que 95% das situações que podem vir a se tornar um problema, como um fio mal conectado ou uma estrutura mal soldada, podem ser prevenidas e corrigidas antes que provoquem um acidente durante um evento com grande público. Isso traz prejuízos para a imagem da cidade, como o que aconteceu no show da Taylor Swift. Uma ação prévia serve de proteção, inclusive para o organizador sério, que contrata profissionais sérios e qualificados. Se identificarmos uma falha qualquer, primeiro orientaremos o organizador. O objetivo principal é educativo. Mas, caso insista na negligência, como autarquia federal, notificaremos Defesa Civil e Ministério Público para a interdição do evento em nome da segurança da população.

Instalar pontos de hidratação para o público, como foi feito depois da morte da Ana Clara, resolve o problema do calor?

O episódio da Ana Clara levanta a questão de que, em períodos de mudança climática, talvez seja necessário que as equipes passem a contar também com meteorologistas antes de megaeventos. Em conjunto com os organizadores, poderiam definir o melhor horário para a entrada do público, por exemplo. Isso poderia ser discutido e regulamentado na cidade.

Existem outras formas de ter uma atuação mais ativa no dia a dia da cidade?

Hoje, várias concessionárias e entidades da sociedade civil têm posições no Centro de Operações Rio (COR). Ao assumir, vou propor ao prefeito Eduardo Paes um termo de cooperação técnica para darmos nossa colaboração. Não queremos concorrer com outros órgãos, como a Defesa Civil. Temos 281 funcionários, fora os extra-quadros. Podemos ajudar muito a cidade em casos de crise.

Pode dar um exemplo?

Se já existisse uma parceria com a prefeitura, o Crea poderia ter avaliado as condições estruturais daquele prédio que desabou recentemente no Arco do Teles. Verificar, por exemplo, se havia algum técnico responsável.

No momento, há alguma obra que o preocupe? Por quê?

As obras inacabadas da estação do metrô da Gávea, da Linha 4, paralisadas desde 2015. O estado prometeu retomar o projeto e tenta um acordo com a concessionária, mas o fato é que ainda existe um imbróglio. Do jeito que está não pode ficar. Com o tempo, aquilo pode se transformar em uma bomba-relógio sem cronômetro. Se por algum motivo o terreno ficar instável, os imóveis no entorno estarão em risco. São situações diferentes, mas veja o que aconteceu em Maceió com a mina da Braskem. Tem que ser tomada uma decisão, e rápido. Ou se conclui o projeto ou se desiste dele. Como entidade da sociedade civil, o Crea vai cobrar uma posição firme sobre isso. E há também a questão das constantes paralisações da SuperVia. Claro que existe o problema de furtos na via, mas os reparos e a manutenção do sistema são demorados. O que isso demonstra? Que há uma quantidade insuficiente de quadros qualificados para fazer essa manutenção. Essa situação tem que ser acompanhada de perto também pelo conselho.

Em muitas operações para demolir construções irregulares, havia placas que identificavam os engenheiros supostamente responsáveis. Como o Crea poderia agir nessas situações?

Como em qualquer profissão, é exigida responsabilidade. Situações como essas podem ser encaminhadas à Comissão de Ética do Crea. Conforme as provas, ela pode arquivar, optar por advertir, suspender ou até cassar o registro do profissional. Essa será uma questão que trataremos em articulação com outras entidades. Muitas obras têm como responsáveis profissionais representados pelos conselhos de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e de Técnicos Industriais e de Edificações (CRT).

 

https://extra.globo.com/rio/noticia/2023/12/de-olho-nos-megaeventos-novo-presidente-do-crea-diz-que-vai-fiscalizar-carros-alegoricos-que-desfilam-na-sapucai.ghtml

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