
Publicado em 19/06/2023 - 15:45 / Clipado em 19/06/2023 - 15:45
Debate sobre Porto de Jaconé lota auditório do Crea-RJ
Cerca de 150 pessoas debateram os impactos do projeto Terminais de Ponta Negra, em Maricá. Houve muitas vozes contra e a favor do empreendimento.
O auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro (Crea-RJ) foi palco, na quarta-feira (14), de um acirrado debate sobre a construção do Porto de Jaconé, em Maricá. Cerca de 150 pessoas – contra e a favor do empreendimento – lotaram o espaço para o evento “Porto de Jaconé: Desenvolvimento, Impactos Sociais e Ambientais”.
Impactos para a população
Contrários à construção do projeto Terminais de Ponta Negra (TPN) – nome oficial do projeto -, estiveram presentes no Crea-RJ dezenas de integrantes do Movimento SOS Porto de Jaconé, que levaram cartazes e a toda hora entoavam palavras de ordem.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa (Alerj), deputado estadual Jorge Felipe Neto (Avante-RJ), também se definiu contra o projeto. “Lembro que a atividade portuária é altamente poluidora e temos em Maricá uma região belíssima que será afetada. Além disso, é preciso destacar que hoje há um esvaziamento enorme do Porto do Rio de Janeiro, com a utilização de apenas 60% de sua capacidade; sem falar de outros portos, como o porto do Açu, o de Macaé, o de Itaguaí. Então, com mais esse Porto em Jaconé, o Porto do Rio será transformado em um Galeão”, argumentou.
O geólogo e professor Renato Cabral Ramos, da UFRJ/Museu Nacional, que é também diretor da Associação Profissional dos Geólogos e conselheiro do Clube de Engenharia, foi outra voz contrária ao empreendimento.
– Há mais de dez anos estamos lutando, e o símbolo dessa luta são os beachrocks, rochas sedimentares importantíssimas que estão presentes em Jaconé, já descritas por Charles Darwin, em 1832. Nesse período, temos trabalhado junto com os Ministérios Públicos estadual e federal na emissão de pareceres contra a construção do porto – disse Ramos.
Segundo o geólogo, há outros impactos tão ou mais importantes que o sítio geológico: sobre a fauna, sobre a vegetação no sopé da Serra de Jaconé e na restinga. Ele citou também os impactos sobre a população. “Quem mora próximo de um porto tem uma degradação na qualidade de vida, em termos de violência, poluição. Na minha opinião, a Justiça foi induzida pelos relatórios emitidos pelo Inea que só consideraram os estudos feitos pelo empreendedor. Jamais o Instituto Estadual do Ambiente considerou os pareceres feitos pela Academia e outros pesquisadores”.
Geração de empregos
Muito também se posicionaram a favor da construção do porto. Diretamente de Maricá, compareceram dezenas de jovens que, segundo disseram, fizeram questão de marcar presença para lutar pelo desenvolvimento econômico da região.
– Nós somos a favor da construção, sim! É preciso considerar todo o desenvolvimento econômico que o porto vai trazer. Atualmente, a maioria dos moradores de Maricá precisa se deslocar até outra cidade para trabalhar e ganhar seu sustento. Maricá já recebe muitos recursos dos royalties do petróleo, tem diversos programas sociais, como o do transporte gratuito, mas a maioria dos moradores não consegue emprego no município! Então o Porto de Jaconé é uma esperança – disse Thiago Oliveira, do Movimento Popular de Juventude. Segundo ele, o empreendimento trará maior perspectiva de trabalho e renda, não só para quem mora em Maricá, mas também para os moradores de Saquarema, Itaboraí e outras localidades do entorno.
Projeto sofreu mudanças
O engenheiro Luiz Carneiro, coordenador da Câmara de Engenharia Civil do Crea-RJ, informou que devido às pressões da área ambiental, o projeto original do porto já sofreu mudanças.
– O Inea acabou de renovar a licença prévia para a construção do porto. No entanto, o empreendedor, devido à resistência de setores ligados ao meio ambiente, reduziu o projeto original por causa das rochas sedimentares que são como um patrimônio imaterial daquela região. Então o que temos aprovado hoje é um porto bem menor, o que é muito bom porque atende aos interesses de setores do pré-sal e da área ambiental – observou Luiz Carneiro.
Ao final do encontro, o arquiteto e urbanista Mauro Scazufca, consultor do projeto de construção do porto, pediu a todos maior atenção e reflexão em torno do assunto.
– Turismo e porto ‘conversam’ muito bem no mundo inteiro! Temos que pensar no Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Barcelona, Los Angeles, Nova Iorque, Tóquio, cidades que têm turismo e porto no mesmo lugar. Como especialista no assunto, posso assegurar que o porto é o maior indutor de desenvolvimento de uma região, em todas as áreas, inclusive na de turismo”, concluiu o especialista.
Debate necessário
O presidente do Crea-RJ, Luiz Antonio Cosenza, destacou a importância das discussões em torno do tema. “É função do Crea provocar este debate. Tem muita gente que defende a construção do porto porque vai gerar emprego e renda. Outros são contra por causa dos impactos ao meio ambiente. Eu entendo que a engenharia tem soluções para essas questões e é isso que queremos discutir: as soluções que a Engenharia dispõe, tanto na área de meio ambiente quanto àquelas relacionadas à geração de emprego e renda para os moradores daquela região. Não queremos ser oposição à construção do porto nem esquecer da área ambiental, então incentivamos o debate para a Engenharia dar as soluções que possam atender a todos. É isso que a gente quer”, pontuou.
https://noticia1.com.br/debate-sobre-porto-de-jacone-lota-auditorio-do-crea-rj/
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